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Fernando Pimenta e Hélio Lucas fazem raio-x da canoagem em Portugal: “Devia haver uma parte do financiamento por mérito…”Exclusivo 

Fernando Pimenta (à direita) e Hélio Lucas (à esquerda) no final dos Europeus de Munique. Foto: Instagram/Hélio Lucas

Fernando Pimenta, canoísta português de 33 anos, conquistou, nos Europeus de Munique, que se disputaram entre os dias 15 e 21 de agosto, mais três medalhas para a coleção. Uma medalha de bronze no K1 500, uma medalha de prata no K1 1000 e, por fim, uma medalha de ouro no K1 5000 metros, tornando-se campeão europeu da categoria.

O atleta, treinado por Hélio Lucas, o treinador mais medalhado do desporto português, conversou, juntamente com o técnico, com a SportMagazine, e afirma que se sentiu muito bem ao conquistar todas estas medalhas para Portugal.

“Foi em crescente. Por acaso começámos pela de bronze, depois foi prata e ouro. E pronto, sem dúvida que foi muito prazeroso, principalmente esta última medalha, a de ouro. Já tinha ido duas vezes ao pódio, nenhuma delas tinha conseguido a medalha de ouro, embora tenha estado sempre na luta dessa mesma medalha, mas tive sempre adversários mais fortes que eu. E nos K1 5000 felizmente consegui ser o mais forte, mais rápido a chegar à meta e sem dúvida que me senti muito bem a conseguir conquistar estas três medalhas para Portugal e para os portugueses e pronto, no K2 1000 metros com o João [Duarte] também queria um pouco mais, mas não conseguimos entrar no ritmo intermédio de prova e depois pagámos a fatura na parte final”, afirmou o canoísta.

Hélio Lucas é o treinador do canoísta Fernando Pimenta. Foto Carlos Saraiva/SM

As conquistas de Fernando Pimenta na atual época desportiva

Fernando Pimenta avalia toda a sua época como excelente. De recordar que, para além das três medalhas obtidas nos mais recentes Europeus, o canoísta português conta com três medalhas na primeira Taça do Mundo, quatro medalhas de ouro na seguinte, três medalhas nos Mundiais (duas de prata e uma de bronze) e com o campeonato nacional K1 sénior.

“Sem dúvida que está a ser uma excelente época, bastante desgastante, bastante dura, já são 13 medalhas internacionais só esta época, ou seja, já são muitas competições em que participei e relembro ainda que não consegui a medalha nos K1 5000 metros no Mundial. Quando já ia isolado na frente, houve um problema técnico e podiam ser mais medalhas e podia ser também campeão do Mundo. Mas pronto, estou, sem dúvida, bastante contente com a minha prestação nestas últimas semanas”, afirmou.

Também o seu treinador, Hélio Lucas, faz uma interpretação daquela que foi uma época cheia de provas e sucesso, não só da parte de Fernando Pimenta, mas também de Teresa Portela, atleta que também treina. Hélio Lucas descreve este ano desportivo como espetacular.

“Começando pela Teresa, veio de um décimo no Campeonato do Mundo, agora melhorou bastante. Não nos podemos esquecer que este ano já esteve nas medalhas na Taça do Mundo, foi vice-campeã do mundo com o Fernando [Pimenta] no K2 500 misto. Conseguiu um quinto lugar com uma grande prestação neste Europeu, tanto que foi uma excelente época desportiva e foi uma forma espetacular de terminar no seu ano. Quanto ao Fernando, é assim, foi um ano atípico, onde procurámos que ele pudesse disfrutar de vários tipos de prova e pudesse ter uma prestação mais massiva e não qualitativa. Mas acabou por ter um ano fantástico. Fomos à primeira Taça do Mundo, ganhou três medalhas, fomos à segunda Taça de Mundo, ganhou quatro medalhas de ouro. Isto num espaço de uma semana, sete medalhas. Fomos ao Campeonato do Mundo, disputou quatro provas. Ganhou dois títulos de vice-campeão do mundo, uma medalha de bronze, e esteve na disputa do título dos 5000. E agora viemos para quatro também, e ganhou uma bronze, uma de prata e uma de ouro. É lógico que queremos sempre um bocadinho demais, mas tendo em conta o número de provas que ele teve foi espetacular”, disse.

Para além disto, o técnico mais bem sucedido na canoagem portuguesa, afirma ainda estar “orgulhoso. Contente por eles, por ver que todo o trabalho compensa e todo o investimento que fazemos nos estágios, nas provas, no rigor, na disciplina”.

Hélio Lucas ao lado de Pimenta e Teresa Portela. Foto: Instagram/Hélio Lucas/Arquivo

Canoagem: uma modalidade desvalorizada

Apesar de todas estas conquistas, a canoagem continua a ser uma modalidade pouco valorizada, tendo sido, o ano passado, segundo o vice-presidente da Federação Portuguesa de Canoagem Ricardo Machado, apenas a 13ª modalidade com o financiamento do alto rendimento mais alto.

Dentro desta questão do financiamento, Fernando Pimenta acaba por descrever o quão isso influencia e prejudica as suas condições e a dos seus colegas, dizendo que “devia haver uma parte do financiamento por mérito de resultados”, pois “se formos a avaliar e a financiar só pelo número de praticantes que a modalidade tem, como é óbvio, a canoagem vai ser sempre das menos financiadas”.

“Sim, como é óbvio, porque essa parte do financiamento também me afeta a mim e aos meus colegas da Seleção e a futuras gerações, porque estamos sempre a fazer contas. Se conseguimos levar mais um atleta, se vai menos um atleta, se o fisioterapeuta pode ir, se o fisioterapeuta não pode ir, se dá para fazer mais dias de estágio ou não. Mas pronto, mesmo nas acomodações, nos estágios em competições, tentamos economizar ao máximo e ficar nos sítios mais baratos. E depois também vemos que existe, de certa forma, uma forma triste de ver os nossos dirigentes que não se sentem bem com o tratamento que a modalidade tem vindo a ter, é a décima modalidade com melhor financiamento e os resultados estão aí, não é? Como é óbvio esse financiamento, também uma parte é por causa do número de praticantes. A canoagem é uma modalidade que só se pratica em meio aquático. É preciso ter especificações muito precisas para se poder fazer, ou seja, nós não podemos pegar num caiaque, ir de férias e fazer canoagem em todos os sítios, porque nem todos os sítios têm lagos, rios e mar. Ou seja, são precisas grandes especificações. O que faz com que não haja tantos praticantes”, descreveu o canoísta.

Hélio Lucas, técnico de Fernando Pimenta, concorda com o seu atleta, afirmando que a verba que é dada à modalidade é escassa e que, mesmo com isso, as coisas acabam por correr bem. Contudo, existem limitações.

“Eu vou ser sincero, nós normalmente, aquilo que é a preparação que nós temos depende muito do projeto político e procuramos sempre ter mais. Por um lado, maximizar o que nós temos, mas por exemplo, se comparar com os húngaros, ou com outros que países ainda não temos os meios nem os recursos para podermos fazer uma preparação adequada. A verba que nos é atribuída é escassa e tentamos não falhar. E nunca usámos isso como desculpa para nada, até porque as coisas nos têm corrido muito bem. Mas é lógico que os outros países dão. Nós às vezes temos de andar quase a mendigar, a pedir que os outros países nos emprestem um fisioterapeuta, barcos, porque não temos dinheiro para levar os barcos, temos muitas limitações. Outras modalidades têm muito mais apoios. Não conheço os critérios, por isso não vou dizer se é justo se não é justo, mas que a modalidade merece o reconhecimento e mais apoio, acho que é inegável”, afirmou.

Aquando perguntado acerca da visibilidade da modalidade, Fernando Pimenta nega sentir qualquer sentimento de crescimento da mesma nesse setor.

“Pensava que nós podíamos, com os resultados que temos vindo a atingir nos últimos anos e mesmo este ano, a modalidade fosse ter um bocadinho mais de visibilidade. Para já, acho que não estou a ver que isso exista. Espero que isto seja um efeito avalanche, que demore pouco tempo a ganhar boas proporções. Mas pronto, sinceramente acho que a modalidade merecia mais visibilidade do que àquilo que tem e, como é óbvio, mais apoio”, disse.

No entanto, Hélio Lucas, apesar de afirmar que há muito a crescer e a melhorar, sente que existe maior reconhecimento, pouco a pouco. Contudo, realça a falta de apoios.

“Temos muito para crescer, para melhorar, temos de ter os pés assentes na terra. Mas o que nós temos, um país de facto que tem excelentes rios, a quantidade de países com que podemos trabalhar. Acho que temos tudo para ainda termos uma potência maior e massificar estes resultados que são individuais para um coletivo muito grande. Eu acho que isso era um bom objetivo para a modalidade (…) importa também haver aqui um reconhecimento também por parte do nosso Estado e talvez alguns mais apoios numa vertente de alta competição”, realçou o treinador.

O futuro de Fernando Pimenta

No que ao que aí vem diz respeito, o canoísta português segue confiante e forte nos seus objetivos. Fernando Pimenta pretende um apuramento para o Campeonato do Mundo de Maratonas e para os Jogos Olímpicos de Paris 2024.

“Neste momento, o objetivo é conseguir o apuramento para o Campeonato do Mundo de Maratonas, que se realiza cá em Portugal, conseguir um lugar na seletiva que se vai disputar em Ponte de Lima. E depois daí tentar obter um bom resultado e dar um bom resultado desportivo em Ponte de Lima. Depois é descansar, fazer a avaliação da época toda. E depois, a médio prazo, é o apuramento olímpico. O caminho acho que é este que nós estamos a traçar e a fazer. Acho que estamos a trabalhar bem, num bom sentido, e é continuarmos a trabalhar focados, não nos problemas, mas em resolver os problemas e a continuar a dignificar Portugal e os portugueses”

Fernando Pimenta, medalhista olímpico. Fotos: COP

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