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Fernando Parente: Planeamento da oferta de instalações desportivas

Foto: Jonathan Petersson em Unsplash

Por Fernando Parente* (presidente da Associação Portuguesa de Gestão do Desporto)

Decidir de forma democrática e agir com ética na distribuição do desporto, enquanto promotor de valores, da saúde e de estilos de vida ativos, deverá significar (sempre) dar a oportunidade a todos de poder usufruir de um serviço/bem considerado, cada vez mais, de primeira necessidade, promovendo ainda um convívio social saudável e de satisfação individual.  No entanto, fica a sensação de falta das instalações desportivas, nomeadamente quando desejamos um espaço em determinado horário para realizar uma sessão de treino ou competição, o qual está ocupado com outra atividade.

Mas haverá mesmo défice de espaços e instalações desportivas para a prática em geral e/ou para a modalidade em que estamos envolvidos? Esta questão tem duas respostas possíveis – ou sim ou não – que virão sempre da nossa perceção e experiência pessoal, pois não existem levantamentos rigorosos sobre o que temos como oferta, a sua ocupação, estado de conservação, índices de satisfação.

A nível nacional, o último levantamento com dados confiáveis sobre as existências de instalações desportivas tem mais de 20 anos, mesmo com a legislação em vigor a indicar que a Carta de Instalações Desportivas é para ser posta em prática. O Sistema Nacional de Informação Desportiva – Instituto de Desporto e Juventude de Portugal (SNID) tem um portal para os detentores/operadores carregarem a informação. Das cerca de 10 mil instalações desportivas que se prevê existir só temos dados de pouco mais de 7000. Assim não vamos lá, sendo esta primeira etapa de planeamento decisiva para conhecer a oferta de instalações a nível nacional.

No entanto, a nível municipal podem as autarquias, desde já, desenvolver per si uma metodologia que tenha como ponto de partida a definição prospetiva (da procura) de espaços desportivos, desenvolvendo um trabalho exaustivo que permita a projeção, a remodelação e a adaptação dos espaços locais às reais necessidades dos cidadãos a médio e longo prazo.

Após a caracterização das existências, o trabalho tem que partir de uma análise e contraposição entre a procura e a oferta, sempre organizado em função de circunstâncias práticas e com o fim último de querer melhorar a qualidade de vida dos cidadãos nas suas mais variadas vertentes.

Desta forma, deveremos procurar responder às seguintes questões: Que oferta e tipo de instalações, recintos e espaços desportivos existem hoje ao dispor da comunidade? Em que quantidades, com que funcionalidade, com que tipo de equipamento e onde? Mas as respostas só podem ser dadas se colocarmos outras interrogações. Quais os habitantes e grupos que – hoje e no futuro – praticam ou venham a praticar? Que tipo de modalidades e atividade(s) física(s)? Qual a frequência? Com que motivações e preferências? Em que período do dia e da semana? Em que tipo de espaços desportivos e em que local?

O excesso ou defeito da oferta de espaços desportivos continua, e em muitos casos, a ser avaliada por indicadores estanques, quantitativos e que nada dizem sobre as particularidades de cada comunidade. Referimo-nos, em concreto, a indicadores de entidades públicas de Planeamento da Administração do Território, do Conselho da Europa, UNESCO, etc., todos com índices de referência por metro quadrado e número de habitantes por instalação desportiva.

A construção e a remodelação dos espaços desportivos resultam quase na totalidade de decisões do lado da oferta ou simplesmente de uma boa vontade política, sem que sejam precedidas de um estudo das necessidades e das vontades da população da área de influência dos respetivos espaços. Urge ir ao encontro das necessidades dos cidadãos, já que são estes que dão utilidade final aos espaços, justificando a sua existência e consequentemente os seus grandes investimentos financeiros associados. Temos afinal instalações desportivas a mais ou a menos? Há que perguntar primeiro a todos e estudar depois. Só assim não cometeremos tantos erros.

Não esquecer que além da discussão pública necessária ao planeamento de espaços e instalações desportiva, o desporto é ainda propício a estabelecer interligações com outros sectores da atividade económica como o lazer e a recreação, a cultura e a educação, a saúde e o turismo. Promover o investimento em espaços desportivos deverá significar sempre a promoção do seu caráter abrangente, polivalente, democrático e ético.

*FERNANDO PARENTE – Diretor do programa Healthy Campus da Federação Internacional de Desporto Universitário desde 2019, Presidente da Associação Portuguesa de Gestão do Desporto desde 2020. Foi Vice-Presidente do Sporting Clube de Braga (2015-2021) e diretor de serviços de Desporto e Cultura da Universidade do Minho (1994-2018). As suas habilitações académicas incluem uma licenciatura em Ciências do Desporto pela Faculdade de Desporto da Universidade do Porto e dois mestrados, o primeiro em Gestão das Organizações Desportivas pelo Comité Olímpico Internacional – Universidade Claude Bernard, Lyon e o segundo em Educação Física e Lazer pela Universidade do Minho. Desenvolveu ao longo dos últimos 30 anos atividade como formador, consultor e professor em várias licenciaturas e mestrados na área da gestão do desporto.

Fernando Parente. Foto: Fisu

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