Ao lado de Tiago Campos, presente nos últimos Jogos Olímpicos em Tóquio 2020, Diogo Cardoso estreou-se este ano na Seleção Nacional sénior diante de um cenário que tem se mostrado positivo para Portugal. Modalidade olímpica desde 2008, a natação em águas abertas tem ganhado projeção no país especialmente entre 2021 e 2022, com a inédita medalha de bronze de Angélica André no Campeonato da Europa deste ano, e com a jovem Mafalda Rosa, que já foi campeã europeia júnior no ano passado e este ano voltou ao pódio na mesma competição.
Em masculinos, a geração que envolve Diogo Cardoso também desponta como promissora. “Já andam no primeiro terço ou primeira metade da classificação”, comemora o Diretor Técnico Nacional (DTN) para as Águas Abertas, Daniel Viegas.
Aos 21 anos, naquele que foi o primeiro ano inserido na elite da modalidade internacional, Diogo Cardoso conseguiu resultados importantes. Em agosto passado, no Europeu Roma 2022, foi 15.º nos 10 km (em 1:56:56.5) – na ocasião, Tiago Campos não terminou a prova. Antes, em junho, obteve o 27.º lugar nos 10km do Mundial de Budapeste com o tempo de 1:56:18.40 – sete posições atrás de Tiago Campos (com o tempo de 1:55:33.50). As competições, assim como os resultados, de acordo com Diogo Cardoso, tem servido como adaptação para o ciclo de alta competição com os melhores do mundo em águas abertas.
“Eu acho que este ano, basicamente, tive a chance de participar dos absolutos pela seleção e tentei agarrar como possível. Foi mais uma época de construção e de ambientação a provas ao mais alto nível porque foram os primeiros Mundiais e Europeus absolutos. Foi mais uma experiência e construção para a partir de agora começar, se calhar, a buscar posições mais acima da tabela. Mas foi muito positivo. Fiz o meu trabalho e julgo que foi uma época bastante positiva, tanto nas águas abertas, como em piscina, onde consegui melhorar os meus tempos”, avaliou Diogo Cardoso, em declaração à SportMagazine.
Sobre o processo de evolução do nadador, Daniel Viegas recorda que, apesar de aparecer com maior notoriedade este ano pelos bons resultados no Europeu e no Mundial, Diogo Cardoso já tem uma trajetória de longos anos nas águas abertas com a Seleção Nacional. Entretanto, precisou atravessar um momento turbulento na transição para o sénior com a pandemia.
“Ele já está referenciado nas seleções jovens há vários anos. Já participou em Campeonatos da Europa de júnior e sempre tem sido enquadrado nas seleções jovens. O problema foi que na transição de júnior para sénior foram basicamente os anos de Covid-19. Não teve a oportunidade de competir no último ano de júnior, quando faria 19 anos. E depois esteve parado. No ano a seguir, que poderia se afirmar na passagem, logo no início não tivemos muitos parâmetros de avaliação, acabou por não ser integrado logo. E depois, em 2021, acabou por ser, entre aspas, ‘repescado’ para a prova de qualificação olímpica que seria no Japão. Iríamos só levar o Tiago [Campos], mas com a passagem da prova para cá, frente às possibilidades de investimento, acabámos por levá-lo também. E ele aí portou-se bem, teve uma boa prestação, mostrou um bom resultado e acabou por ser integrado”, detalhou o selecionador nacional.
“E o Diogo continua a evoluir, tendo mostrado bons desempenhos principalmente nas provas importantes, que foram o Mundial e o Europeu. Acabou por fazer boas prestações, a nadar na primeira metade. E culminou no Europeu, com alguma sorte à mistura, com vários nadadores bons que desistiram, com o 15.º lugar a entrar no projeto olímpico, o que assegura mais algum investimento nele para trabalhar e ir às competições. Este ano a gente espera que seja um ano de salto competitivo e a nível de trabalho, o que se traduzem a resultados”, acrescentou o treinador.
No processo de evolução, o nadador do Sporting melhorou ainda mais este mês o tempo em relação ao Mundial e o Europeu. Presente na Taça do Mundo de Natação (águas abertas), prova realizada no último dia 12, na cidade israelita de Eilat, em Israel, Diogo Cardoso terminou em 36.º lugar (1.52.24,10). Apesar do crescimento, o atleta português trata a evolução com naturalidade, como um processo de adaptação, sem determinar objetivos fixos.
“Sinceramente, ainda não tenho uma meta. Gosto de levar as coisas mais no ‘flow’, ir andando. Mas acho que este próximo ano, ainda acredito que seja mais uma época de construção, porque uma época só não chega. E ainda temos tempo até Paris 2024, por isso acho que essa época ainda quero considerar mais estar no grupo e ter mais experiência ainda que ainda sinto que é preciso mais experiência nessa prova ao mais alto nível”, afirmou.
No seguimento do Plano de Alto Rendimento e Seleções Nacionais de águas abertas, Diogo Cardoso está desde o passado dia 16 a realizar um estágio de altitude, que decorre na Serra Nevada (Granada, Espanha), ao lado de Angélica André e com o selecionador Daniel Viegas. A equipa nacional segue no país vizinho até o dia 6 de dezembro. Um momento para Diogo aumentar a carga de trabalho.
“Normalmente, na rotina normal em Portugal, porque também tenho faculdade, vario entre 60 km e 70 km por semana, com três dias de ginásio. Faço nove treinos por semana, dá uns 60 km em média. No estágio é possível aumentar o volume, aumentar mais para 90 km, 100 km e isso dá uma verdadeira ajuda”, admitiu, a falar sobre a troca de experiências com Angélica André e o próprio Tiago Campos.
“Eles são as referências no nosso país nessa disciplina, por isso tenho o prazer de poder aprender com eles, e tentar tirar o melhor deles. Tento sempre fazer isso, tanto nos treinos, às vezes em conversas, como é que nós podemos reagir a determinadas situações nas provas, como é que eles fazem… Não é copiar, mas eu gosto de aprender com eles para eu poder melhorar. Nas trocas de ideias conseguimos melhorar todos”, destacou.
Por fim, questionado sobre as chances de tentar o apuramento para Paris 2024, Diogo Cardoso voltou a tratar as possibilidades com bastante cautela. “Como eu digo sempre: eu gosto de abordar as coisas com calma. Não é que eu não tenha objetivo de ir a 2024, mas para isso ainda tenho que aumentar muito mais o nível que tenho atualmente. É o que eu digo: construir, construir, para quando chegar à altura da qualificação fazermos o melhor. Se não acreditarmos em nós, ninguém vai acreditar em nós próprios. Temos que ser nós mesmos os primeiros a acreditar que é possível. Acho que há sempre uma pontinha de esperança e tenho que continuar a trabalhar com esse objetivo”, pontuou.