Os presidentes da Confederação do Desporto de Portugal (CDP), Carlos Paula Cardoso, e do Comité Olímpico de Portugal (COP), José Manuel Constantino, além do campeão paralímpico Carlos Lopes, representante da Confederação Paralímpica de Portugal (CPP), uniram forças esta sexta-feira, durante o Congresso Nacional do Desporto, para enfatizar a preocupação com a queda no investimento às Federações desportivas em 2020.
Durante o evento promovido pela CDP, a decorrer até o sábado no Fórum Lisboa, as três autoridades desportivas destacaram as preocupações com o movimento associativo relativamente ao impacto que a pandemia teve para a área do desporto, nomeadamente o federado.
“Os clubes de pequenas dimensões estão a ser obrigados a fechar as portas com todo o prejuízo que estão a ter e isso leva ao prejuízo do desporto de Portugal”, lamentou Carlos Paula Cardoso, que abriu o painel “Retoma e recuperação” esta tarde. “A Confederação do Desporto de Portugal espera que a nova equipa governativa olhe para o setor do desporto como um aliado e reconheça neste a relevância que o mesmo merece”, acrescentou.
O presidente da CDP recordou os números divulgados este mês pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). De acordo com o órgão, em 2020 o financiamento do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) às Federações desportivas atingiu 40,8 milhões de euros, o que representa uma quebra de 11,1% face aos 45,9 milhões de euros de 2019. No mesmo período, também o apoio das autarquias foi reduzido, de 320 milhões de euros para 301 milhões de euros.

José Manuel Constantino: Ninguém está à espera de que o novo governo tenha uma espécie de varinha mágica, mas tem que dar sinal de esperança”
A complementar o discurso de Carlos Paula Cardoso, José Manuel Constantino, que falou de seguida, fez um paralelo entre o desenvolvimento da economia e do desporto de um país.
“Está para descobrir como é possível desenvolver economicamente um país sem uma economia que tenha mão de obra disponível, boa formação e qualificação nos recursos humanos, que tenha bons salários e que tenha empresas que estão capitalizadas. Ou seja, se as empresas não estiverem capitalizadas, se não houver bons incentivos materiais, mão de obra disponível e qualificada, torna-se impossível desenvolver uma economia que seja competitiva no quadro global. O que se aplica à economia se aplica ao desporto. Sem atletas, sem quadros qualificados, sem incentivos materiais e com as organizações descapitalizadas, dificilmente se encontra solução para garantir a competitividade do desporto nacional”, afirmou.
As declarações refletem outra estatística do INE, que foi relativa ao número de clubes desportivos: em 2020 existiam 11.066 clubes contra 11.429 em 2019 (menos 3,2% do que no ano anterior) e 587.812 praticantes (-14,7% em relação a 2017) inscritos nas Federações desportivas, enquanto em 2019 foram contabilizados 688 894 praticantes federados. Com a queda, o presidente do COP cobrou uma postura diferente do governo.
“Ninguém está à espera de que o novo governo tenha uma espécie de varinha mágica, mas tem que dar sinal de esperança. Tem que dar sinal de que os tempos que vamos viver vai mudar. A partir do período e da circunstância internacional com custos acrescidos, designadamente em matérias de deslocações internacionais, a generalidade das organizações desportivas vão sofrer. O sentimento das minhas palavra vêm para compartilhar convosco a minha preocupação”, pontuou José Manuel Constantino.
Por fim, Carlos Lopes destacou que “o quadro social, económico e os efeitos da pandemia são partilhados pelo movimento paralímpico, em alguns casos até acentuados”.
A discussão foi assistida por uma plateia de aproximadamente 100 pessoas, entre atletas, treinadores e movimento associativo que pôde discutir juntos estratégias e projetos que impulsionem o futuro do desporto em Portugal. O Congresso Nacional do Desporto foi o primeiro organizado pela Confederação do Desporto de Portugal.

Estatísticas do INE motivaram a discussão entre autoridades desportivas