Leiria – A última sessão do primeiro dia do 45.º Congresso da APTN, que decorre no Instituto Politécnico de Leiria (Escola Superior de Educação e Ciências Sociais – ESECS), estes sábado e domingo, reservou um momento para debater o “estrelismo” na natação. Num encontro moderado por Pedro Roque, diretor desportivo do Comité Olímpico de Portugal (COP), foi levado o tema “É possível encontrar o equilíbrio em equipas com estrelas?”. Compuseram a mesa redonda nomes de peso da modalidade no país: Ricardo Santos (treinador do SL Benfica), Luís Cameira (treinador do SC Braga) e Vítor Ferreira (treinador do Louzan Natação).
Ricardo Santos, treinador por exemplo da olímpica Diana Durães, fez um percurso a observar que o trabalho de formação para compor uma mentalidade moderada num atleta é necessário de se fazer desde as camadas jovens.
“Temos atletas juvenis que atingiram patamares extraordinários, mas quando atingem esse patamar, a ambição é estar num Mundial Júnior, Europeu, não é progredir… A partir desse momento, se queremos ter um patamar para levar o atleta ao alto nível, temos que prepará-los para terem consciência de que o percurso não é fácil. Levar isso ao atleta e aos pais dos atletas. Ao criar esse alicerce forte, nós próprios estamos a prepará-los. Essa expetativa é criada pelos pais, mas a verdade e que se não fomos nós no terreno todos os dias a mostrar que o caminho é aquele, termos atletas referências a mostrar e ‘baixar a bola’ que o caminho não é fácil, não conseguimos construir um atleta com alicerces fortes”, afirmou.
Luís Cameira, treinador dos olímpicos José Lopes e Tamila Holub, observou que um problema se dá com o “bombardeamento” da mídia em momentos pontuais sobre os atletas. “Os atletas são completamente ignorados pelos órgãos de comunicação social geral e, de repente, quando chegam os Jogos Olímpicos são bombardeados de uma forma que nunca foram na carreira. É difícil estarmos a prepará-los. Posso falar nomeadamente sobre a nossa realidade quando só interessam os apurados. E logo vêm as perguntas: medalhas? Por muito que dissesse que até hoje só tivemos um finalista nos Jogos Olímpicos, as pessoas só têm essa cultura desportiva que é a cultura da medalha. É complicado porque de quatro em quatro anos os atletas são bombardeados”, destacou o treinador bracarense.
Vítor Ferreira, que treina dois dos maiores destaques da temporada na natação portuguesa – Camila Rebelo e Gabriel Lopes -, observou que costuma orientar os seus atletas a fugir de respostas que possam gerar pressão extra nas competições.
“Quando fizerem essa pergunta [medalhas] é fugir dela. É explicar que a carreira de um nadador é subir uma escada. O topo são os Jogos Olímpicos, mas temos que passar pelo Mundial Júnior, Europeus absolutos, Jogos do Mediterrâneo, e quem sabe um dia os JO. O que tento transmitir é que podemos ser excelentes nadadores e nunca atingirmos o topo. Só se falam dos atletas olímpicos, mas esquecem que outros fazem carreiras bonitas com outras competições. Sempre tive que preparar o discurso do atleta para ser moderado. Dizer que busca ser finalista se calhar é ser muito ambicioso, cria expetativas elevadas e se calhar não é o ideal”, afirmou o treinador do Louzan.
“Sou feliz de estar num clube que nos ajuda na parte da comunicação e tenta filtrar a comunicação e por vezes isso ajuda a criar uma barreira. Os atletas por aí estão um pouco mais tranquilos. Essa é uma das grandes mais-valias de estar num clube como SL Benfica”, acrescentou Ricardo Santos.
A sessão decorreu num clima bastante amistoso entre os treinadores, que demonstraram exemplarmente – com cordialidade e leveza – como os seus comandados podem construir uma carreira de maneira humilde. “No caso do ego dos atletas que têm resultado, felizmente não sinto que os atletas vão para a piscina com o peito inchado. O que sinto é que a exigência passa para outro patamar”, disse o treinador do Benfica sob olhares de concordância dos colegas.
Com um público composto por dezenas dos principais treinadores de natação do país, o 45.º Congresso da APTN decorre no Instituto Politécnico de Leiria (Escola Superior de Educação e Ciências Sociais – ESECS). O evento acontece até o domingo com cerca 400 inscritos, 60 convidados e mais 14 oradores autopropostos numa extensa programação.
Aos participantes, o encontro garante certificado de formação para fim de revalidação de título profissional de treinador (2.0 unidades de crédito) e de técnico de exercício físico e direção técnica (1.0 unidades de crédito); além de acreditação pelo Conselho Científico-Pedagógico da Formação Contínua (CCPFC) dos grupos 260/620, na modalidade curso de formação (29 horas).
