Na semana passada, o Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF) entregou, na Federação Portuguesa de Futebol, um Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) para o futebol feminino.
De acordo com a organização, o documento pretende assegurar a equiparação salarial mínima entre homens e mulheres no futebol português, uma vez que o salário mínimo do futebol feminino está fixado nos 665 euros.
Carla Couto, ex-internacional pela seleção nacional portuguesa de futebol feminino e atual responsável responsável pelo departamento de futebol feminino do SJPF, explica, em entrevista à SportMagazine, que “o futebol feminino sofreu uma transformação enorme, quer pelo interesse generalizado das mulheres na modalidade quer pelos apoios financeiros existentes e investimento dos clubes”, explica acrescentando que desde o seu ingresso na seleção nacional, em 1993, houve um “aumento do número de praticantes é visível e a criação de equipas femininas por clubes com maior poderio financeiro contribuiu para o aumento do número de jogadoras que pode fazer desta a sua profissão exclusiva ou principal.
“Hoje a modalidade é mais respeitada e muitos dos preconceitos que existiam, a começar pelas próprias famílias que impediam ou estigmatizavam as jovens por praticarem futebol, começaram a cair. A sociedade atual reflete muito melhor o espírito de que o futebol não tem género”, aponta.
“Para atingir a equidade no futebol feminino é preciso garantir um acordo coletivo de trabalho específico para a modalidade”
Quando questionada sobre o Acordo Coletivo de Trabalho entregue à Federação Portuguesa de Futebol, que inclui a necessidade de subir o salário mínimo da modalidade para 2280 euros, verba mais do que três superior ao atual rendimento mínimo das atletas.
“Para atingir a equidade no futebol feminino é preciso garantir um acordo coletivo de trabalho específico para a modalidade, que regule, na especialidade, matérias como salários mínimos e prémios, a gravidez e proteção na parentalidade, a prevenção do assédio moral e sexual, entre outros temas”, esclarece, acrescentando que “quanto aos salários mínimos, não podíamos deixar de apresentar uma proposta ambiciosa de equiparação salarial entre competições masculinas e femininas, o que não significa que não saibamos, ao mesmo tempo, que há um caminho a percorrer até chegarmos a esse objetivo”.
Vale a pena relembrar que na terça-feira (07/02), Fernando Gomes anunciou que o futebol feminino é uma prioridade para a FPF e comprometeu-se a equiparar os prémios entre homens e mulheres ao serviço das seleções. “Saudamos a iniciativa da Federação Portuguesa de Futebol em equiparar os prémios e, deve reconhecer-se, a FPF tem desempenhado um papel preponderante para o crescimento do futebol feminino, em especial ao nível do apoio financeiro, direto ou por intermédio da UEFA, para que os clubes desenvolvam a sua atividade, bem como o processo de certificação e toda a promoção da modalidade que tem sido feita. Não temos dúvidas de que para a FPF o desenvolvimento do futebol feminino é uma prioridade”, refere.
Sobre o futuro do futebol feminino, Carla Couto é clara: Acreditamos que é possível Portugal vir a ter uma Liga totalmente profissional, mas para que isso aconteça ainda é necessário criar condições atrativas para investimento na modalidade. A experiência internacional diz-nos que o investimento e apoios no futebol feminino é diverso daqueles que existem no futebol masculino e, como tal, importa trabalhar o produto o melhor que podermos. São precisas melhores condições de trabalho e de treino, infraestruturas desportivas, a começar com os relvados, de maior qualidade e continuar a dar visibilidade, não apenas através das transmissões televisivas, mas também nas plataformas digitais, à modalidade e respetivas protagonistas”, conclui.