*por Bruno Dias (treinador principal do CF “Os Belenenses”)
A velocidade com que recebemos e partilhamos dados é alucinante e, por isso, torna-se um desafio dar-lhes o melhor uso para melhorar o desempenho das equipas. O primeiro desafio é transformar esses dados em informação; acima de tudo, uma informação relevante para a tomada de decisão do treinador principal tanto em jogo como em treino.
Foquemos a nossa reflexão sobre o treino. Como é de conhecimento geral, os métodos de controlo do treino são cada vez mais indispensáveis para conseguirmos potenciar o máximo rendimento de cada atleta, sendo um importante auxílio para os treinadores exacerbarem os princípios da individualidade e especificidade do treino.
A tecnologia aplicada ao futebol tem permitido recolher inúmeros dados no jogo e do treino que são fundamentais para um conhecimento mais rigoroso de cada equipa, mais as exigências físicas, técnicas, táticas e até psicológicas do mesmo.
Para responder ao primeiro desafio – transformar dados em informação relevante – , o treinador principal tem o importante suporte da sua equipa técnica, esta que tende cada vez mais a ser multidisciplinar e a funcionar como uma verdadeira assessoria especializada das decisões do líder.
Na prática é redutor descarregar os dados de GPS, recolhidos no treino, de um jogador e enviar os mesmos para o treinador principal sem os contextualizar, ou seja, sem ter valores de referência com ações semelhantes de jogo, exercícios semelhantes de outras sessões de treino, dia do microciclo, entre outras variáveis que possamos considerar chave para a correta avaliação daquela informação.
É a partir dessa transformação que o treinador principal consegue gerar conhecimento para a equipa, e ganhar um autoconhecimento que pode ser traduzido na melhor priorização do planeamento semanal – depende de duas variáveis chave: o jogo anterior e o jogo seguinte.
A análise do jogo anterior é significativa para a melhoria contínua da equipa. Contudo, não é necessariamente aquela que se torna guia para as escolhas dos conteúdos do microciclo seguinte. É que o próximo jogo pode ter caraterísticas completamente diferentes do anterior. E. nesse cenário, o que fazer?
Desconsiderar a análise do jogo anterior é perder feedback do nosso processo até ao momento, daí ser fundamental que os pontos de melhoria necessários sejam trabalhados (se foram identificados, são importantes); todavia, podem não ser urgentes no propósito de nos fazer alcançar o resultado no jogo seguinte.
Um exemplo concreto: no jogo anterior, identificamos muita dificuldade em entrar no bloco adversário, através do corredor central; os jogadores que estavam à frente da linha da bola procuraram mais movimentos de ataque ao espaço nas costas da linha defensiva adversária do que dar solução nas costas da linha média. No entanto, no jogo seguinte, a estratégia passa por não fazer movimentos de ligação no corredor central, mas explorar sobretudo os corredores laterais. Torna-se assim primordial, neste caso, incidir o treino naquilo que precisamos de fazer, e conquistar o resultado pretendido através da estratégia preconizada.
Creio que é fundamental para o treinador principal ter claro, de uma forma consistente e constante, o que pretende que seja feito em cada treino e cada jogo para que possa definir as ações importantes e urgentes da semana seguinte.
Devemos priorizar mais o urgente ou o importante? Depende.
A chave, creio, estará em encontrar o equilíbrio entre ambos porque, como todos sabemos, no futebol, urgente é ganhar o jogo seguinte; a ditadura dos resultados não se compadece com a relevância inequívoca do processo de aprendizagem dos jogadores, nem com as etapas da construção de uma equipa.
