Recordista nacional no lançamento do disco (66,40 metros), Liliana Cá é uma das principais lançadoras de sempre no desporto português. Finalista olímpica em Tóquio 2020 (quinta classificada) e prata há poucas semanas nos Jogos do Mediterrâneo, a atleta de 35 anos segue a acumular boas prestações e a alimentar a esperança de novas conquistas para o atletismo nacional. Foi assim, por exemplo, no Mundial de Oregon, quando alcançou na semana passada um honroso sexto lugar com a a sua melhor marca na temporada (63,99m).
Na ocasião, Liliana esteve atrás da chinesa Bin Feng (69,12 metros), da norte-americana Valarie Almann (67,62 metros) e da croata Sandra Perkovic (68,45), que subiram ao pódio, além de Jorinde van Kinker, neerlandesa, e da alemã, Claudine Vita, quarta e quinta classificadas, respetivamente.
Ao final da prova, Liliana Cá afirmou à Federação Portuguesa de Atletismo que “a prova correu-me bem, muitíssimo bem aliás, melhor do que eu estava à espera”, explicando ainda: “Tive dores depois da qualificação e tive de ficar um dia inteiro em recuperação, a ver se chegava à final, mas graças a Deus correu tudo bem”.
Em entrevista à SportMagazine, Luís Herédio, treinador da atleta olímpica, avaliou a participação da lançadora no mundial – que com este resultado igualou a melhor classificação de sempre a nível nacional, que pertencia a Teresa Machado, em Atenas 1997. O coordenador de lançamentos do atletismo do Sporting CP também falou sobre os planos para o Europeu de Munique, que ocorrerá em agosto.

Liliana Cá ao lado do treinador, Luís Herédio. Foto: FPA
SportMagazine (SM) – A Liliana Cá obteve em Oregon o sexto lugar mundial – igualando o melhor resultado alguma vez registado, a nível nacional e com a melhor marca da temporada. Como avalia a prestação da Liliana na competição, satisfeito ou acha ainda que ela poderia ter ido além?
Luís Herédio (LH) – A Liliana, desde os Jogos Olímpicos que ainda está com algumas limitações nos joelhos e isso tem influência nos treinos e nas competições, mas dentro das limitações, a preparação foi pensada para que ela estivesse nos campeonatos ao mais alto nível. Sabíamos que o nível ia ser alto e que o importante era ela qualificar-se para a final, depois na final tudo podia acontecer… A Liliana já nos habituou a reagir bem nos momentos das grandes competições, a tranquilidade dela e o “sangue frio” ajudam muito. Embora tenha sido 6.ª classificada, ficámos super contentes, mas não vou negar que sonhávamos com uma medalha. Estamos muito felizes.
SM – A atleta afirmou ao fim da prova que estava cansada, ainda reflexo da competição nos Jogos do Mediterrâneo. Acredita que isso pode ter atrapalhado?
LH – Sim, tenho sentido a Liliana bastante cansada, e o calor que se fazia sentir, também não ajudou. Estivemos mais de 30 dias fora de casa e com viagens muito longas. Ela cumpriu o objetivo de ser finalista, a marca obtida de 63.99m foi muito boa. O primeiro ensaio talvez tenha comprometido a possibilidade de ficar em 4.º ou 5.º, que era acessível, mas ela veio ter comigo e disse logo que estava mole, mas a cafeína de imediato fez o seu efeito.
SM – Ainda sobre o cansaço, qual o planeamento, em relação a treinos e descanso, até os Europeus que se aproximam no próximo mês?
LH – Assim que chegarmos a Lisboa, dou-lhe três dias descanso para carregar as baterias e mimar os filhos que são as pessoas mais importantes da vida dela. Depois dos três dias, uma semana de treino muito forte e nos dias que faltar até ao Europeu [em Munique, entre 15 e 21 de agosto] vamos aliviando progressivamente para o corpo estar descontraído e rápido.
SM – Mantém-se o objetivo de chegar à mais uma final na competição continental ou seria possível pensar em pódio?
LH – Eu penso sempre no pódio, sou assim, sou ambicioso, mas não subestimo as adversárias. Vai ser duro e o trabalho psicológico também tem que ser feito… As três alemãs vão estar a jogar em casa, a croata é favorita, mas a Liliana é a Liliana. Não será o final da época, porque depois ainda tem a final da Liga de Diamantes. Nunca podemos esquecer que a Liliana é uma atleta como todas as outras e um dia as coisas podem correr menos bem, mas eu estou preparado para isso e acho que ela também. Só que, para já o trabalho, está a dar frutos e até acho que estou a começar a habituar-me. Vamos torcer para que seja mais uma prova em que as coisas corram bem e as estrelinhas estejam todas alinhadas… Se não correr bem, em outubro começamos a preparar com todo o entusiasmo o Campeonato do Mundo do Próximo ano e os Jogos olímpicos de Paris 2024.

Foto: Federação Portuguesa de Atletismo